30 de ago. de 2009

MEDITAÇÃO SOBRE O PERDÃO

Meditação Sobre o Perdão

“Se pudéssemos ler a história secreta dos nossos inimigos, encontraríamos na vida de qualquer pessoa dor e sofrimento suficientes para desarmar qualquer tipo de hostilidade.” Longfellow

O perdão é um dos maiores dons da vida espiritual. Ele nos possibilita a libertação dos sofrimentos do passado. Embora possa surgir espontaneamente, ele também pode ser cultivado. Como a meditação sobre a bondade e a prática da compaixão, existe uma maneira de cultivar o perdão através de uma prática antiga e sistemática. O perdão é usado como uma preparação para outras meditações centradas no coração, como um modo de suavizar o coração e liderar as barreiras à nossa bondade e compaixão. Através da repetição da prática, inúmeras vezes, podemos trazer o espírito do perdão para nossa vida como um todo.
Antes de poder fazer a prática do perdão, você precisa estar seguro sobre o significado do perdão. O perdão, de modo algum, justifica ou fecha os olhos às ações danosas. Embora perdoe, você também pode dizer: “Nunca mais vou permitir, conscientemente, que isso aconteça.” Você pode até resolver sacrificar a sua vida para impedir maiores danos. O perdão não significa que você precisa procurar ou falar com aqueles que lhe causaram dano. Você pode se decidir a nunca mais vê-los de novo.
O perdão é simplesmente um ato do coração, um impulso para liberar a dor, o ressentimento, o ultraje que você carregou como um fardo por tanto tempo. Ele desoprime o seu coração e o ajuda a reconhecer que – não importa a intensidade com que a condene ou o quanto tenha sofrido com as más ações de uma outra pessoa – você não irá expulsá-la do seu coração. Todos sofremos danos, assim como todos, num momento ou noutro, ferimos a nós mesmos e aos outros.
Para a maioria das pessoas, o perdão é um processo. Quando você foi profundamente ferido, o trabalho de perdoar pode levar anos. Ele passará por muitos estágios – o pesar, a raiva, o sofrimento, o medo e a confusão – e, no fim, se você se resolver a sentir a dor que carrega, o perdão virá como um alívio, como uma libertação para o seu coração. Você verá que o perdão existe, fundamentalmente, para o seu próprio bem; trata-se de um modo de deixar de carregar a dor do passado. O destino da pessoa que o feriu, esteja ela viva ou morta, não importa tanto quanto aquilo que você carrega no seu coração. E se o perdão é para você mesmo, pela sua própria culpa, pelo mal que fez a si mesmo ou a outra pessoa, o processo é o mesmo. Você chegará a perceber que não pode mais carregar essa culpa.
Para praticar a meditação do perdão, sente-se confortavelmente, permitindo que seus olhos se fechem e seu corpo e respiração estejam naturais e à vontade. Deixe o corpo e a mente relaxarem. Respirando suavemente na região do coração, sinta todas as barreiras e apegos que carregou por não ter perdoado – por não ter perdoado a si mesmo, por não ter perdoado aos outros. Sinta a dor de manter fechado o seu coração. E então, depois de respirar suavemente na região do coração por algum tempo, comece a pedir e a estender o perda, recitando as seguintes palavras e permitindo que elas abram o coração que perdoa. Deixe que as palavras, imagens e sentimentos se aprofundem à medida que os repete.
O pedido de perdão aos outros: Existem muitos modos pelos quais feri e causei dano aos outros, pelos quais os traí e os abandonei, causei-lhes sofrimento, consciente ou inconscientemente, por causa da minha dor, do meu medo, da minha raiva e da minha confusão. Lembre e visualize esses muitos modos pelos quais você feriu os outros. Veja e sinta a dor que você causou devido ao seu próprio medo e confusão. Sinta as suas próprias mágoas, o seu arrependimento, e perceba que, afinal, você pode se libertar desse fardo e pedir perdão. Forme uma imagem de cada lembrança que ainda oprime o seu coração. E, então, a cada lembrança, repita: Peço o seu perdão, peço o seu perdão.
O pedido de perdão a si mesmo: Sinta a preciosidade do seu corpo e da sua vida. Existem muitos modos pelos quais traí, causei dano ou abandonei a mim mesmo, através do pensamento, da palavra e da ação, consciente ou inconscientemente. Veja todas as maneiras pelas quais feriu ou causou dano a si mesmo. Forme imagens, recorde, visualize. Sinta a mágoa que carregou de todas essas ações, e perceba que você pode se libertar desses fardos, concedendo-lhes o perdão. E então diga a si mesmo: Por cada uma das maneiras pelas quais feri a mim mesmo através da ação ou da não-ação, por causa do meu medo, dor e confusão, agora concedo um perdão pleno e sincero. Eu perdôo a mim mesmo. Eu perdôo a mim mesmo.
Pedido de perdão aos que o feriram ou lhe causaram dano: Existem muitas maneiras pelas quais fui machucado e ferido, abusado e abandonado pelos outros, em seus pensamentos, palavras ou ações, consciente ou inconscientemente. Disponha-se a imaginar, a recordar, a visualizar essas muitas maneiras. Sinta a mágoa que carregou desse passado e perceba que você pode se libertar desse fardo concedendo o perdão – se o seu coração estiver pronto. Agora diga para si mesmo: Vejo agora como os outros me feriram ou causaram dano, devido ao seu medo, dor, confusão e raiva. Na medida em que estou pronto, ofereço-lhes perdão. Carreguei essa dor no meu coração por um tempo demasiado longo. Por isso, aos que me causaram dano, ofereço o meu perdão. Eu perdôo você.
Repita suavemente essas três orientações para o perdão até que possa sentir livre o seu coração. Talvez, para algumas grandes dores, você não sinta uma libertação, mas apenas o fardo, a angústia e a raiva que carregou. Suavemente, toque essas áreas. Perdoe isso também a si mesmo. O perdão não pode ser forçado; não pode ser artificial. Simplesmente continue a prática e deixe que as palavras e imagens trabalhem gradualmente a seu próprio modo. Com o tempo, você pode tornar a meditação do perdão uma parte regular da sua prática, liberando o passado e, com uma sábia bondade, abrindo seu coração para cada novo momento.

*Jack Kornfield ( UM CAMINHO COM O CORAÇÃO)

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